sábado, 15 de novembro de 2008

CIRCOLÍTICO

Texto retirado da 1° ed do JNC.
Por Daniel Elias

Essa coluna é destinada às questões referentes à política circense nacional. Nesta edição de abertura, selecionamos a carta escrita pela historiadora-professora Ermínia Silva, que relata o recente episódio marcante de mobilização dos circenses em nível nacional, em prol da indicação de representação legítima dos circenses no Conselho da Frente Parlamentar.

“Olá a todas e todos.
A semana de 02 a 06.06.2008 será mais um dos marcos importantes da história política circense.
Tudo começou quando dia 02.06, nossa companheira de luta Laura Cavalheiro enviou uma mensagem eletrônica para o grupo Circomunicando informando sobre o lançamento do caderno “Diretrizes Gerais para o Plano Nacional de Cultura” pela Comissão de Educação e Cultura, em parceria com o Ministério da Cultura e a Frente Parlamentar Mista em Defesa da Cultura; bem como sobre a posse do Conselho Consultivo da Frente da Cultura, no dia seguinte, em Brasília.
Junto com a mensagem de Laura, Alice Viveiros de Castro, nossa representante e lutadora no Conselho Nacional de Política Cultural, no mesmo dia e quase na mesma hora, convidava a todos os circenses para se manifestarem “imediatamente sobre como agir e especialmente ouvir a opinião de todas as Entidades que representem o circo”; pois o Sr. Marcos Frota estava sendo indicado como o nome do Circo naquele Conselho.

Prontamente vários circenses do Brasil encaminharam mensagens, inclusive eu, sobre a não representatividade do nome que estava sendo indicado. Foi quase a única coisa que consegui fazer naquela semana.
No mesmo dia 03.06 que escrevi e conversei com Alice, dia da posse do Conselho Consultivo da Frente Parlamentar, minha irmã foi internada para uma cirurgia muito delicada, que aconteceu no dia 04. Eu e minha família ficamos “internados” com ela. Agora, quando já superamos mais uma fase e estamos nos preparando para outras, estou tendo condições de escrever.
Garanto que foi uma semana de fortes emoções. Além das pessoais, senti outras tantas ao acompanhar esse intenso movimento político desencadeado de modo transparente pelas ações militantes e conseqüentes de Alice e Laura, com a parceria de Joana Henning e muitos brasilienses. Também me emocionou atualmente, o fórum virtual mais representativo da categoria circense. Mas, principalmente, a participação da diversidade circense de todas as regiões do país, representando a lona itinerante (de todos os tamanhos), o circo social, as escolas, o teatro,a pesquisa, a rua. Com certeza, é um dos momentos singulares da história do Circo no Brasil.

Já tivemos outras lutas significativas e não podemos desconhecê-las. Entretanto, até para os mais céticos, é impossível negar que mais de 200 e-mails escritos (tenho arquivado todos) em apenas quatro dias, representando toda aquela diversidade, tenha um significado muito particular, ou seja, que crescemos muito como movimento político. Se esse coletivo não estivesse por aí, como movimento, os apelos de Alice e Laura cairiam no vazio, como muitas vezes caíram outros tão importantes quanto.
Há quem acredite que descobrimos “o grande vilão do circo brasileiro”, que tudo aconteceu porque se elegeu um “inimigo comum”. Pode ser. Mas, em nenhum momento devemos considerar que o Sr. Marcos Frota é "o inimigo”.Como escrevi em minha mensagem, a ausência desse senhor em todos os debates políticos não o autorizava ser um “representante do circo” em qualquer instância política. Demonstrei, como muitos demonstraram, a indignação das escolhas governamentais do seu nome como “representante legítimo”, ao mesmo tempo em que deixamos claro o nosso desconhecimento sobre os critérios dessa escolha. Além do fato de termos tomado ciência desse acontecimento na sua véspera.
Discordo de vários modos de atuação desse senhor, que veicula, através de suas empresas, projetos que tratam de forma dúbia conceitos de “universidade”, “escola”, “projeto social” e as atividades circenses. Mas, isso não me autoriza a considerá-lo “o inimigo”, pois ele não é o único em nosso meio de quem temos ou tenho tido discordância.
O que acontece é que mesmo com nossas diferenças, há um número grande de circenses que têm discutido e debatido nas arenas políticas que vimos formando e das quais participamos; o que não é uma tarefa simples e tranqüila, mas as temos considerado fundamentais, tais como: os encontros de escolas, de circos, da Asfaci, nas mesas de debates dos festivais, fóruns circenses, encontros de palhaças e palhaços, nas várias oficinas e cursos, nos projetos de pesquisas, nos encontros da Rede Circo do Mundo, enfim, no Circomunicando. Em todos esses lugares nos expomos e debatemos nossas posições. Mas, para haver diálogo na discordância, os pares precisam estar presentes nos espaços que vêm se constituindo em lugares de manifestação e formulação dos circenses, no Brasil. O que não acontece com esse senhor.

Se agora o elegemos como "o vilão", quando essa fase passar, volta-se a considerar nosso parceiro do lado, nosso vizinho, ou simplesmente aquele que faz diferente de mim como inimigo de novo. Para mim a reflexão desse movimento é de que não se deve haver exclusão da diferença.
Antes de tudo é preciso ressaltar que ele foi convidado e, graças ao empenho de Alice, Laura, Joana e os brasilienses, fizeram com que o Deputado Frank Aguiar entendesse o equívoco. Até onde se sabe, o Deputado soube voltar atrás e aceitou que se propusesse outro nome.Diante da oportunidade de transformar indignação em ação e representatividade, quando o Deputado aceitou a retirada do nome do Sr. Marcos Frota da Frente Parlamentar, as nossas bravas dirigentes pediram ao coletivo nomes.
De um modo aberto o meu foi indicado e apoiado para consolidar as ações que haviam sido feitas de colocar em cheque a escolha anterior, e em apenas dois dias dezenas de manifestações o legitimaram.
Entendi e entendo que esse processo não tem nenhuma marca pessoal, pois muitos que pertencem a essa longa lista de lutadores agregam qualidades e características suficientes para esse lugar. Acredito, então, na minha escolha como expressão legítima da multiplicidade que habita esse mesmo coletivo, por ser uma defensora do respeito às diferenças, do reconhecimento das muitas formas de se 'ser circense', e por ter sempre defendido a transparência e coletivização das lutas circenses.
Se o meu nome for confirmado para fazer parte o Conselho da Frente Parlamentar, não desejo atuar sozinha. Necessitamos que o espírito do Circomunicando, dessa última semana, permaneça.
Gostaria de ter um veio poético para agradecer a todos e, em particular, a minha parceira do comitê pró-criação da associação nacional dos pesquisadores de circo do Brasil – Alice Viveiros de Castro. Infelizmente não sou poeta, e, além disso, confesso a todos que nunca dancei rumba, só sapateado. Mas, assumo rodar a saia e dançar rumba para que os espaços oficiais de produção de políticas públicas voltadas para a cultura e de produção de memória saibam da importância da história do Circo na formação da cultura brasileira e o reconheçam como patrimônio cultural. Saibam, também, da produção histórica contemporânea da diversidade do fazer circense e suas importantes contribuições nos processos pedagógicos de formação de uma parcela significativa de nossa juventude. Saibam que em muitos municípios brasileiros o circo ainda é o espetáculo esperado, mesmo que alguns prefeitos e câmaras municipais dificultem sua entrada.
Agora, vamos aguardar o dia 17.06, quando Joana, de novo, irá procurar o Deputado para consolidar a minha indicação. E, assim que me inteirar dessa função, comunico a todas e todos. Abraços.”
Ermínia Silva ■

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